Estátua de Vercingétorix em Alise-Sainte-Reine, França
Educado pelos druidas, adquiriu raras qualidades de elevação de caráter. A morte cruel de seu pai - Celtil -, queimado vivo por julgamento do Senado, por ter aspirado à coroa, lançou uma sombra sobre sua juventude e contribuiu para torná-lo, muito cedo, circunspecto, meditativo e sonhador.
Enviado cedo para a escola dos druidas Celtas, vivia na familiaridade respeitosa desses sacerdotes. Ele aprende com eles que há uma alma imortal e que a morte é uma simples mudança de estado. Eles lhe ensinam que o mundo é uma coisa imensa e que a humanidade se estende ao longe, bem fora das terras paternais da Gália (atual França) e dos caminhos da caça e da guerra. Assim, o jovem imaginava, pouco a pouco, a grandeza do mundo, a eternidade da alma e a unidade do nome gaulês.
Tudo em Vercingétorix lhe predispunha o comando: corpo alto e esbelto, o indicava para a admiração das multidões. Ele tinha a superioridade física e intelectual que dá à vontade uma segurança nova.
Instruído e amado pelos bardos Celtas, ele tornou-se bardo e sabia exprimir em versos e empregar em seus discursos essa atitude arrebatadora que os Celtas têm de sempre impressionar.
Vercingétorix atravessou as vastas solidões silvestres que separavam as tribos, visitando a floresta sagrada dos carnutos, onde ele participa da grande cerimônia anual, presidida pelo arquidruida e pela grande sacerdotisa da Ilha de Sein; e sua visita à Carnac, onde ele cumpre outros ritos. Alí, nas horas do crepúsculo, ele escuta o canto do bardo, afirmando o Deus supremo:
'Eu creio em um Deus único, eterno, que não se conhece, que nunca se conhecerá, indubtavelmente. Eu creio naquele que é, naquele que será, visto que é o mesmo, naquele que se revela e existiu sempre, visto que é o mesmo ainda. O caminho que leva à sua incógnita começa no sacrifício voluntário.'
Na Ilha de Sein, Vercingétorix vai consultar as druidisas.
'Tu vieste, lhe dizem elas, nos interrogar sobre o enigma dos mundos. Nós e nossos sacerdotes te respondemos. Tu chegaste, como nós, ao conhecimento da migração das almas e das leis da vida universal. Agora uma outra tarefa te será imposta: é preciso doravante pensar em Roma. Se tudo que visto do império gaulês te tem feito amá-lo, se tu estás ligado à nossa religião, forte e doce, natural e divina, onde o mal inevitável da vida se esclarece e se resgata pelo sacrifício, então prepara-te agora! Prepara-te para salvar teu país e sua religião, única no mundo. Crê em mim, crê em minhas irmãs, crê em nossos sacerdotes; esta virtude particular ao nosso solo onde a raça céltica atinge sua mais justa expansão, não existe em outra parte.'
É no ano de 53 a.c. que, dolorosamente influenciado pela situação da Gália (atual França), Vercingétorix toma a resolução de consagrar à salvação de sua nação.
Numa luta horrosa de três dias, o impulso furioso dos arvernos desbarata as linhas romanas de César, mas a traição dos eduenos aniquila seus esforços e a armada gaulesa se dispersa. Vencido, Vecingétorix poderia fugir, mas ele preferiu se oferecer como vítima expiatória a fim de poupar a vida de seus companheiros de armas. César, estando assentado num tribunal, no meio de seus oficiais, vê um cavalheiro de alta estatura, coberto de uma magnífica armadura, aparecer a galope. O cavalheiro descreve três círculos com seu cavalo ao redor do tribunal e, com ar altivo e grave, joga sua espada aos pés do procônsul. Os romanos, impressionados, se afastaram com respeito, mas César, mostrando a baixeza de seu caráter, prostra-o com injúrias, acorrenta-o, manda-o para Roma e joga-o na prisão - um calabouço escuro, com uma única entrada, pela abóboda.
Após seis anos de prisão horrenda, ele foi retirado para figurar como triunfo de César e daí foi entregue ao carrasco (46 a.c).
Um dia, no correr dos tempos, esses dois homens se reencontraram servindo à mesma causa. Mas isso é uma outra história...
(Texto extraído do livro O Gênio Céltico e O Mundo Invisível, de Léon Denis)
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