terça-feira, 13 de setembro de 2011

~Alguém Especial ~



É isso o que você quer – ou um monte de gente basta?
'Ficar com muita gente é fácil', diz um amigo meu, com pouco mais de 25 anos. 'Difícil é achar alguém especial.'
Faz algum tempo que tivemos essa conversa. Ele tentava me explicar porque, em meio a tantas garotas bonitas, a tantas baladas e viagens, ele não se decidia a namorar.
Ele não disse que estava sobrando mulher. Não disse que seria um desperdício escolher apenas uma. Não falou em aproveitar a juventude ou o momento e nem alegou que teria dificuldade em escolher. Ele disse apenas que é difícil achar alguém especial.

Na hora, parado com ele na porta do elevador, aquilo me pareceu apenas uma desculpa para quem, afinal, está curtindo a abundância.
Foi depois que eu vim a pensar que existe mesmo gente especial, e que é difícil topar com uma delas.
Claro, o mundo está cheio de gente bonita. Também há pessoas disponíveis para quase tudo, de sexo a asa delta. Para encontrar gente animada, basta ir ao bar, descobrir a balada, chegar na festa quando estiver bombando. Se você não for muito feio ou muito chato, vai ser dar bem. 
Se você for jovem e bonita, vai ter possibilidade de escolher. Pode-se viver assim por muito tempo, experimentando, trocando de gente sem muita dor e quase sem culpa, descobrindo prazeres e sensações que, no passado, estariam proibidos, especialmente às mulheres.
Mas talvez isso tudo não seja suficiente.
Talvez seja preciso, para sentir-se realmente vivo, um tipo de sensação que não se obtém apenas trocando de parceiro ou de parceira toda semana. Talvez seja preciso, depois de algum tempo na farra, ficar apaixonado.
Na verdade, ficar apaixonado pode ser aquilo que nós procuramos o tempo inteiro – mas isso, diria o meu jovem amigo, exige alguém especial.
Desde que ele usou essa fatídica expressão, eu fiquei pensando, mesmo contra a minha vontade, sobre o que seria alguém especial, e ainda não encontrei uma resposta satisfatória. Provavelmente porque essa respostas não existe.

Você certamente já passou pela sensação engraçada de ouvir um amigo explicando, incansavelmente, porque aquela garota por quem ele está apaixonado é a mulher mais linda e mais encantadora do mundo – sem que você perceba, nela, nada de especial.
Disso se deduz, eu acho que a pessoas especial é aquela que nos faz sentir especial.
Tenho uma amiga que anda apaixonada por um sujeito que parece ter nascido no cartório, mas faz com que ela se sinta a mulher mais sensual e mais arrebatada do planeta. É uma química aparentemente inexplicável entre um furacão e um copo de água mineral sem gás, mas que parece funcionar maravilhosamente.
Ela, linda e selvagem como um puma da montanha, escolheu o cara que toma banho engravatado, entre tantos outros que se ofereciam, por que ele a faz sentir-se de um modo que ninguém mais faz.
E isso basta.

É preciso admitir que há gente que parece especial para todo mundo.
Não estou falando de atores e atrizes ou qualquer dessas celebridades que colonizam as nossas fantasias sexuais como cupins. Falo de gente normal extremamente sedutora. Isso existe, entre homens e entre mulheres. São aquelas pessoas com quem todo mundo quer ficar. Aquelas por quem um número desproporcional de seres humanos é apaixonado.
Essas pessoas existem, estão em toda parte, circulam entre nós provocando suspiros e viradas de pescoço, mas não acho que sejam a resposta aos desejos de cada um de nós.
Claro, todo mundo quer uma chance de ficar com uma pessoa dessas. Mas quando acontece, não é exatamente aquilo que se imaginava.
Você pode descobrir que a pessoa que todo mundo acha especial não é especial para você.

Da minha parte, penso que esse alguém especial é alguém que enche a vida. É a resposta às minhas ansiedades. Alguém que me dá aquilo que eu nem sei que eu preciso – às vezes é paz, outras vezes confusão. Alguém que extraia o melhor e o pior de mim, alguém que me faça sentir inteira. 
Deve ser isso que o meu amigo tinha em mente quando se referia a alguém especial.
Se for isso, vale a pena.
As pessoas que passam na nossa vida são importantes, mas, de vez em quando, alguém tem de cavar um buraco bem fundo e ficar.
Essas são especiais e não são fáceis de achar.

(Texto de Ivan Martins, adaptado por Marcinha)

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