A atenção, assim como a água, é um elemento brincalhão. Ela não gosta de ser contida por muito tempo. Em vez de ficar sempre em guarda, experimente seguir sua atenção para onde ela desejar ir.
Num minuto você está olhando para os telhados, no outro percebe que seu cadarço está desamarrado. Ao abaixar para abraçar seu filho, lembra-se de que precisa dar um telefonema. Perde o fio da meada no meio de uma frase ao notar manchas de água no piano. Não se preocupe. Não se trata de déficit de atenção. Ao contrário, você controla muito bem o balé de sua vigilãncia.
Para se convencer de que o que sempre considerou fraqueza é, na verdade, um talento para observação, escolha um momento qualquer do seu dia e procure listar tudo o que vê, ouve e pensa nos 60 segundos seguintes. Sempre que você estiver pronto, a vida também estará. 'Vivemos para descobrir a beleza. Todo resto é uma forma de espera', escreveu o poeta líbano-americano Khalil Gibran.
Não espere muito. Abrace o presente da vida sempre, e o mais rápido que puder. Mas lembre-se de que um passeio pela rua de um tranquilo bairro residencial pode ser muito compensador.
Observe as cenas: um pai empurrando o carrinho do bebê com uma das mãos, uma janela aberta que mostra um senhor de óculos segurando um regador, e, de repente, sem motivo, a preocupação com um amigo que acabou de se mandar para o Japão se intromete.
Quinze segundos depois você volta ao presente, a tempo de ver um carro vermelho virar a esquina. Aí se lembra de que tem de comprar outro vidro do seu remédio. Nesse instante, no fim do estacionamento, percebe que um casal dança ao som da música que sai do rádio do carro.
As maravilhas do mundo estão por toda parte - basta notá-las. Produção ininterrupta, sua vida é um espetáculo ao qual você assiste pelo preço de um único ingresso. Pode entrar e sair quando quiser, sem restrições. De vez em quando será chamado para fazer um pequeno papel, o que lhe dará a chance de ver de perto o cenário e a ação.
A beleza do mundo está sempre ao seu alcance, no outro lado do notoriamente curto espaço de sua atenção.
(Texto extraído do livro A Arte de Viver o Momento, de Véronique Vienne)
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