sábado, 11 de fevereiro de 2012

~ Pensamentos de Léon Denis ~



Por lembrança, eu revejo a natureza ainda virgem, semi-selvagem, toda impregnada de mistério e de poesia, e que o homem, apesar de sua pretensão de embelezar, somente conseguiu mutilar e despojar.
Revejo esses grandes promontórios, batidos pelas tempestades, que se erguem ante os horizontes infinitos do mar e do céu.
Revejo a floresta profunda, toda cheia de murmúrios de uma vida invisível; a floresta assombrada pelos espíritos dos antepassados que encantam os santuários onde se realizam os sacrifícios e os ritos sagrados. Essa floresta céltica era tão vasta que seriam precisos meses inteiros para atravessá-la; tão espessa, tão cerrada, que no verão o tempo era escuro em pleno meio-dia, sob suas abóbodas verdejantes.
Todo Celta guarda no coração o amor ardente, imperecível, da floresta. Ela é para ele um símbolo de força e de vida imortal. Após o fim do inverno, não renasce ela na primevera, assim como a alma, após um tempo de repouso, volta à Terra para manifestar os poderes da vida que estão nela?
Nesse ponto, como em muitos outros, o ensino dos druidas se inspirou nos espetáculos da natureza. No estudo de suas leis, eles acharam uma fonte abundante de lições sempre vivas e expressivas, sempre ao alcance dos homens que ofereciam uma base sólida, uma força incomparável para suas convicções. Daí nenhuma dúvida, nehuma hesitação, visto que eles pensavam que a natureza era uma emanação da vontade divina . É por estar afastado dela e por ter desconhecido suas leis que, desde então, o homem caiu no cepticismo e na negação.
Mas então uma fé nova e pura brotava das almas, como a fonte límpida jorra do solo sob a ramagem dos grandes bosques. Espírito impetuoso e ardente, dela me impregnei a tal ponto que, apesar das vicissitudes de numerosas existências, ainda lhe guardo uma profunda impressão.
Eu gostava de penetrar nos círculos de pedra (cromlechs) onde se evocavam os espíritos dos mortos. Escutava, com ansiedade, as lições dos druidas, que nos entretinham com as narrações das lutas da alma no 'Abred' (Terra), para conquistar a ciência e a sabedoria, e sua plenitude de vida no 'Gwynfyd' (mundos celestes), para posse da virtude, do gênio e do amor. Sob a indicação do Mestre, eu me aplicava em aprender e recitar os numerosos versos que constituíam o ensino sagrado.
Mas quando a Terra tiver perdido seu adorno, e se tornar calva e nua, quando as águas pluviais rolarem em torrentes devastadoras, para onde o homem voltará seus olhares para desfrutar do espetáculo do Universo?

(Texto extraído do livro O Gênio Céltico e o Mundo Invisível, de Léon Denis)

Nenhum comentário:

Postar um comentário