sábado, 15 de outubro de 2011

~ A Morte da Mulher Maravilha ~


A Mulher Maravilha cansou de salvar o mundo. Começou a achar estranha essa estória de nunca ter um Homem Maravilha ao seu alcance e todo aquele brilho de ser "A" mulher. Resolveu tirar, pela primeira vez, um final de semana de férias e se viu absolutamente só.


Enquanto o seu rádio telepático tocava incessantemente com pedidos vindos do mundo inteiro, o celular particular não acusava uma ligação. Nenhuma mensagem. O primeiro registro, no final da manhã de sábado, foi de uma amiga desesperada.
- Só você pode me ajudar, ele não para de me ligar e eu não est...
- Não, não posso! – interrompendo a amiga
- O quê? Tá falando com quem? – respondeu a desesperada interrompida
- Com você! Estou de férias... não sei de nada. Não sei de mim, não sei pra onde quero ir, nem com quem. Aliás, não tenho ninguém pra ir comigo a lugar algum. Não sei. Não quero mais falar. Beijo. Não me liga!
Desligou o telefone.

Depois do silêncio na linha, no quarto e em toda a casa, achou que era mesmo o silêncio em si que incomodava. Não atendeu mais às ligações da mãe com perguntas inimagináveis a espera de respostas que ela não queria mais responder. Ignorou as mensagens da irmã que nunca acreditou que ela realmente salvasse o mundo, mesmo sem ter levantado da cadeira para tentar. E se recusou a ouvir as estórias de amor das amigas que lhe inspiravam textos lindos que seriam agradecidos eternamente. Queria escrever a sua estória!
E passou o resto do final de semana tentando achar um tema que lhe rendesse uma boa estória. Algo que fosse retirado da sua própria vida e que não precisasse usar temas vividos pela Mulher Maravilha, mas acontecimentos da vida dela.
Escreveu mais de vinte páginas com diferentes inícios que terminavam em nada. Achou todos absurdamente insossos e rasgou-os com raiva. Depois o choro.

Veio a vontade de sair às ruas e procurar por aqueles que precisavam dela. Talvez o trabalho a fizesse sentir melhor. NÃO! Como poderia ajudar ao próximo se dentro de si encontrara buraco maior do que a camada de ozônio? E não achava protetor solar que pudesse protegê-la do calor que extravasava pelos poros. Não sabia que a sua companhia, assim, desacompanhada, poderia ser tão monótona.

Vagou pelas horas que pareciam dias. Queria saber quem ela era se não usasse a roupa dos super poderes. Queria encontrar o lugar onde ela poderia ser gorda, feia, tímida, tola. Queria saber se ela existia sem a Mulher Maravilha. Queria alguma coisa verdadeiramente dela que a fizesse sorrir... lágrima nos olhos e o telefone tocando. Tocando. Tocando. Mensagem de texto: "Onde você está que não atende as ligações? Precisamos de você!". Respondeu em pensamento "eu também preciso!".

Segunda-feira, oito horas. Não conseguiu sair da cama.
Nove, dez, onze horas... chegou ao Olimpo. Calça jeans, camisa branca, all star vermelho. Atravessou todas as portas sem bater e olhou para Aquele que fora seu espelho durante toda a vida.
- Acabou. Não posso continuar lutando pelas pessoas se não consigo me encontrar sozinha. Não sou um exemplo para a nossa nação. – desabafou.
- Você não pode deixar tudo para trás. O povo acredita na Mulher Maravilha e precisa dela. O que diremos aos que contam com você?
- Diga que eu volto... viajarei pelos meus sete continentes. A minha missão só estará completa quando conseguir restaurar a paz, mas dessa vez, dentro de mim.
(Texto extraído de um blog.)

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